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Cartaz de divulgação dos eventos na época. Década de 1960 |
A verdade é
que, na segunda feira de manhã, não se falava em outra coisa no recreio do
Colégio Estadual de Bagé. O apresentador oficial era o conhecidíssimo
radialista Éldio Macedo que era anunciado por uma voz off como o “marronzinho
mais elegante de Porto Alegre”. Ele subia ao ringue e anunciava:
_ “À nossa direita, lutador com 98 quilos, a fera
argentina... Elllll Dueeende; à nossa esquerda, lutador com 105 quilos, o
misterioso Veeeerdugo; e, para comandar esta fantástica luta, o mediador
Ciiiiiiiiigano”.
E lá vinham as
sequências de draps, tesouras, torções, voadoras.... Os “malvados” seguidamente
proporcionavam cenas circenses como esfregar uma metade de limão nos olhos do
adversário, açoitar o oponente com um chicote trazido às escondidas dentro do
calção... o mediador, para desespero da plateia, nada via, e tudo era uma festa
e a luta sempre acabava no terceiro assalto.
Um belo dia o
Ringuedoze Liquigás que, já perdendo o gás, mudara de nome e agora era
patrocinado pelo Marinha Magazine, apresentou-se em Bagé, numa improvisada
estrutura montada no campo do Guarany Futebol Clube. Quem foi o primeiro a
entrar? Eu, é claro.
Foi uma
decepção! Ao vivo tudo ficava mais claro. Era uma “baita marmelada”. Nós, a
gurizada de Bagé, não tínhamos como entender que era apenas um teatro, o
desempenho de uma profissão, que aqueles lutadores eram, na verdade, lutadores
de espetáculo. Ali, no ringue improvisado no campo do Guarany, e olhando bem de
perto, percebíamos que os socos não eram assim tão fortes, que as voadoras eram
ensaiadas e que vencer no terceiro assalto era uma questão de sequência de atos
da programação, um imperativo do seguimento publicitário. Eles eram apenas
artistas, trabalhadores como nossos pais. Precisavam apenas garantir o
anabolizante das crianças. Brigavam, se desentendiam, eram inimigos de morte,
queriam bater, ver o sangue do adversário, esganar, matar... mas somente ali,
no ringue. Fora dele, eram colegas de profissão, de viagem, de trabalho. Se
existisse na época essa tal pizza de hoje, ela seria o prato ideal para
saborear juntos, depois das lutas.
Nunca mais
assisti ao Ringuedoze Liquigás - ou Marinha Magazine - com o mesmo interesse.
Eu não queria ver ninguém quebrado, é claro, mas bem que o meu ídolo – o
Leopardo - poderia ter dado uma boa sova no El Duende, naquela noite lá no
campo do Guarany, nem que fosse só para justificar a fotografia que o Marinha
Magazine enviou para mim – o seu fã número um.
Muito legal, que postagem magnífica... apesar de não ter foto nenhuma, pois sei que deve ser extremamente difícil, só o fato de essas lembranças tão gostosas virem a nossa mente, que curtimos isso, quando crianças, já ativa as fotos na nossa memória, não só as fotos quanto os próprios vídeos... como era gostosa a ansiedade de chegar a hora de entrar o programa e rever aqueles nossos "heróis", que faziam a nossa alegria.
ResponderExcluirDois comentários adicionais, se me permite, são os seguintes: eu tinha 7 anos de idade (hoje estou com 61), e na escola onde eu cursava o 1º ano do primário, tinha um dia da semana que numa das salas da escola tinha uma tv (com tubo, em preto e branco, obviamente) acho que tinha umas 20 polegadas, onde a gurizada (meninos e meninas) pagavam um valor simbólico, devia ser alguns centavos, na época, e sentavam nas cadeiras que haviam e, se faltasse, se sentava no chão, mesmo, e tudo era festa... então passava, numa sequência, as lutas livres (nessa época, já com patrocínio do Marinha Magazine), o velho e saudoso Ringue Doze, onde todos se deliciavam com aquela "carnificina", hehe, e logo depois vinha O Túnel do Tempo e em seguida Os Invasores... cada um melhor que o outro, o que criava uma expectativa, pois os episódios sempre continuavam na próxima semana.
A outra delícia que vivíamos era, acho que uma vez por mês (nunca soube se era uma empresa contratada ou um ato de pura bondade da escola, da prefeitura, ou de uma alma caridosa), era espichada uma tela enorme de cinema que ficava atravessada na rua, e ali era projetado um ou dois filmes que atraía a atenção de crianças e adultos, onde não não se pensava em mais nada, a não ser saborear aquela maravilha, onde as pessoas levavam bancos, cadeiras, mochinhos, lonas, pra sentar, e se não tinha, se sentava no chão, mesmo... ainda guardo na memória cenas de filmes que vi, naquela época, que jamais irei esquecer, tão deliciosos foram aqueles anos, onde não existia drogas, violência, e o próprio álcool era meio que proibido, e a venda era até meio camuflada... enfim... cada geração tem o seu modismo... que bom que nós tivemos o nosso, e foi tão saudável, gostoso e construtivo pra nossa vida...
Um grande abraço, e parabéns por essa postagem maravilhosa... e obrigado pela relembrança dessa nostalgia!